segunda-feira, 23 de abril de 2012

Um primeiro olhar


Na infância a visão se desenvolve. E é nela que muitos problemas devem ser flagrados e tratados

Por Marina Bessa

A garantia de olhos saudáveis exige cuidados desde cedo, antes mesmo do nascimento. “O acompanhamento pré-natal permite evitar que doenças como rubéola e toxoplasmose afetem a retina do feto”, justifica a oftalmologista Célia Nakanami, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Essas infecções podem provocar até cegueira.
Mal recebeu as boas vindas no berçário, o recém-nascido é submetido ao primeiro check-up oftalmológico. Além de observar o aspecto externo, o especialista realiza o exame do reflexo vermelho. Com um aparelho chamado oftalmoscópio, uma luz é direcionada à retina. Se a pupila fica avermelhada, como em fotos tiradas com flash, está tudo ok: não há empecilho para a passagem dos raios luminosos.
Para flagrar doenças graves, como catarata e glaucoma congênitos, o teste tornou-se obrigatório por lei no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Com a criança mais crescida, dá para avaliar sua visão por um método simples: basta tampar um dos olhos e aguardar sua reação. Caso chore ou fique agoniada, pode ser sinal de disfunções, como a ambliopia. “Ela ocorre quando um olho é mais estimulado do que o outro”, explica o oftalmologista Miguel Álvares, de Minas Gerais.
“Daí, a visão do lado ruim não se desenvolve como deveria”. Diagnosticada a tempo, a enfermidade é revertida. “A criança aprende a interpretar os estímulos visuais que chegam ao cérebro até os 7 anos”, esclarece o oftalmologista Luís Carlos Sá, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Ou seja, depois dessa idade torna-se mais difícil mudar o curso do problema.”
Aversão a luminosidade, olhos lacrimejantes, assimétricos ou que se entortam muito exigem consulta  urgente. Amparados por luzes, lentes e cartões, os especialistas costumam identificar problemas até mesmo quando a criança ainda não fala. Aliás, a Universidade Federal de São Paulo acaba de adquirir o único aparelho da América Latina capaz de registrar, por meio de eletrodos colocados na cabeça do pimpolho, como os impulsos visuais chegam ao cérebro. “Esse método, chamado de potencial evocado de varredura, elimina qualquer subjetividade no diagnóstico”, afirma Célia Nakanami. Quando tudo vai bem, o ideal é que a primeira visita ao oftalmologista seja entre os 3 e os 4 anos.

Problemas de nascença
Conheça as principais doenças oculares congênitas

Catarata
O bebê pode já nascer com o cristalino opaco, o que diminui a acuidade visual. O tratamento exige a remoção cirúrgica dessa lente.

Glaucoma
Trata-se do aumento da pressão intra-ocular. Outro caso que requer cirurgia.

Estrabismo
Os olhos apontam em diversas direções. Aqui também pode-se apelar para o tratamento cirúrgico.


Retinobalstoma
Um reflexo esbranquiçado na região da pupila é um dos sinais desse tumor. Ele é extraído cirurgicamente.

Ptose (pálpebra caída)
Uma ou ambas as pálpebras tapam a área da pupila, o que pode atrapalhar o desenvolvimento da visão. Mais um caso para operação.

Obstrução dos canais lacrimais
Ocorre quando o duto lacrimal é bloqueado. O problema pode ser resolvido por meio de massagens. Cirurgia só em casos extremos.