terça-feira, 3 de abril de 2012





Os campeões do jogo da vida

Deficientes visuais superam as dificuldades e se destacam no esporte e na vida profissional


Filipe Tavares dos Santos, 12 anos, é uma criança como outra qualquer. Gosta de brincar com os amigos, estudar e principalmente fazer natação. Já ganhou três medalhas, sendo uma de ouro, prata e bronze. Até aí tudo bem e nada mais natural do que um jovem praticando esporte. Mas a realidade do garoto é bem diferente. Ele possui uma síndrome denominada de B1, que significa ser totalmente cego. Filipe não enxergar absolutamente nada, o que não o impede de praticar vários esportes e até mesmo ganhar, como no caso da natação.

Além da família, o menino recebe apoio do Instituto de Cegos do Brasil Central de Uberaba (MG) para estudar e praticar esporte. Seu tempo fica dividido entre as aulas na parte da manhã e os treinos de natação que acontecem duas vezes por semana durante a tarde. O restante do período passa geralmente na oficina mecânica com o pai. "Eu já desmonto e monto carburador sozinho, meu pai me ensinou, demorei um pouco para aprender, mas hoje já consigo fazer o serviço sem que ele me ajude, também lavo peças e até troco rodas", afirma.

Atualmente cursa a terceira série primária e já pensa no futuro. Pretende seguir os passos do pai e se tornar um bom mecânico. "Quero trabalhar e montar uma oficina e também ter um carro", comenta. Apesar das dificuldades que o garoto sabe que enfrentará ele não se preocupa muito. Elogiado por todos os professores, Filipe está confiante no futuro que tem pela frente, apesar de sua deficiência visual.
Como Felipe, os portadores de deficiência visual desenvolvem várias habilidades e a maioria leva uma vida normal, trabalham, estudam, moram sozinhos ou constituem família como é o caso de Adilsson Antonio da Silva, 35 anos. Ele nasceu com um grau de deficiência visual não muito grande, mas o caso foi se agravando.

Adilsson conseguia ler e escrever, estudou até a quarta série do ensino fundamental, quando começou a perder totalmente a visão. "Eu comecei a escrever em cima das linhas que já estavam escritas e por medo e timidez abandonei os estudos", relembra. Hoje enxerga apenas luminosidade. Sua irmã também possui o mesmo problema. Tiveram retinose pigmentar. De acordo com Adilsson a causa é indeterminada.
Casado com Ana Lice da Silva, que também é deficiente visual, os dois tiveram um filho que está com três anos, Marcos Vinícius da Silva. Ele não possui nenhum tipo de problema na visão. Adilsson é professor de Matemática e Ciências no Instituto dos Cegos, e sempre busca alcançar seus objetivos. No fim do ano ele conclui o curso de Pedagogia Especial na Universidade de Uberaba.

Segundo ele, o deficiente visual tem que se desdobrar, pois quase nunca encontra material para estudar. "Você precisa ter um conhecimento geral muito grande, pegar todo tipo de informação, buscar entender tudo, pois isto pode contribuir e muito na sua vida e na sua escolaridade. Tudo que escuto, seja em notícias ou até propaganda eu tento assimilar de uma maneira que vai ser útil no futuro", conta Adilsson.

As dificuldades
Mesmo desenvolvendo de maneira inigualável a audição e o tato os deficientes deparam-se com dificuldades que não são superadas por esses sentidos. No caso do professor, as dificuldades estão presentes dentro de casa, quando precisa lidar com remédios do filho. "Identificar o medicamento é fácil, o difícil é saber as reações, como no caso de vermelhidão. Se o remédio é em gotas então não tem jeito, vamos ter que pedir ajuda", ressalta.

A batalha de Adilsson é ter que vencer os obstáculos todos os dias. Na faculdade sempre precisa da ajuda dos colegas para acompanhar a turma. Na rua encontra dificuldades principalmente nos passeios em que são colocadas as caçambas de entulho, sem falar na má conservação dos mesmos. Os portões das casas se tornam grandes vilões quando esquecidos abertos no meio da calçada. Mas para Adilsson, o problema maior são as lixeiras de ferro que brotam na rua da noite para o dia: "a gente nunca se sabe onde elas estão, se no meio da calçada ou perto da rua", completa. O formato dessas lixeiras surpreendem os deficientes de maneira dolorosa. "Elas quase nunca são redondas e a gente sempre bate de frente e acaba se machucando. Estou com a barriga arranhada pois no meio do caminho havia uma lixeira cheia de quinas", disse .

O professor deixa sua indignação explicita e ressalta o que teria que melhorar na cidade para que o deficiente visual pudesse ter uma vida com menos dificuldades. "Eu tenho na minha mente, mais ou menos, um mapa da cidade. Sei como chegar aos locais, mas quem ainda não conseguiu mentalizar isto, fica difícil. Por isso os ônibus escolares são importantes; a padronização dos passeios também amenizaria. Poderia haver também nos pontos de ônibus, uma caderneta escrita em Braile e em tinta ampliada assim poderíamos saber as linhas e os números dos ônibus. Por exemplo, se estou no ponto e quero pegar um ônibus que vai para o Primavera, vou saber a linha e o número. Tendo a tinta, o número vai ficar na minha mão, vou mostrar para o motorista e se não for o meu ônibus ele não vai precisar parar sem necessidade. Esse serviço poderia ser implantado, uma vez que não é imaginação, já existe em Franca (SP)", finaliza Adilsson.

Fonte:http://www.revelacaoonline.uniube.br/a2002/cidade/defi.html