segunda-feira, 4 de junho de 2012

Macacos daltônicos voltam a perceber as cores em tratamento


Terapia genética pode transformar o sistema visual até mesmo em adultos

Os macacos, que são naturalmente daltônicos para as cores vermelho e verde, podem ter visão melhorada quando submetidos à injeções com gene fotorreceptor humano. A pesquisa, realizada em animais adultos, constatou que o sistema visual é ainda mais flexível do que se pensava, os macacos se adaptaram rapidamente ao novo sistema sensorial.

Os pesquisadores esperam que estes resultados possam também ajudar as pessoas que sofrem de daltonismo e outras desordens visuais, expandindo as opções de doenças dos olhos que podem ser curadas com as terapias genéticas.

“A surpresa nesta pesquisa foi que o animal pôde usar sua nova habilidade muito rápido, principalmente para tomar decisões”, afirmou Jeremy Nathans, neurocientista da Johns Hopkins University, em Baltimore, Estados Unidos.

"Este é um grande passo na habilidade de modificar a retina com engenharia genética”, ressaltou David Williams, diretor do Centro de Ciência Visual da University of Rochester, em Nova, Estados Unidos.

A visão normal de um macaco é quase idêntica a de daltônicos humanos, apontando-os como excelentes espécimes para estudar as desordens que acometem as pessoas. A maioria dos seres humanos possui três tipos de fotorreceptores de cor – vermelho, verde e azul – que permitem ver o espectro completo de cores. O daltonismo é uma condição genética que atinge 5% dos homens e uma porcentagem menor de mulheres, devido à falta da proteína sensível à luz para os comprimentos de onda verde e vermelho. Os macacos possuem somente dois fotorreceptores de cor, limitando sua visão, eles não podem distinguir um “X” vermelho em um fundo verde, por exemplo.

Neste novo estudo, publicado na revista americana Nature, os cientistas da University of Washington, em Seattle, Estados Unidos, injetaram o gene para tratamento de humanos com o fotopigmento vermelho direto nos olhos dos animais, perto da retina. O gene, que estava dentro de um vírus inofensivo usado frequentemente em terapias genéticas, é projetado de modo que se torne somente ativo em um subconjunto de fotorreceptores verdes. Assim começa a produção da proteína do pigmento vermelho aproximadamente entre 9 a 20 semanas depois da injeção, transformando aquelas células em tipos que respondem à cor vermelha.

Os pesquisadores avaliaram os macacos antes e depois do tratamento, utilizando um teste similar ao usado para avaliar o daltonismo em humanos. Formas coloridas foram encaixadas em um fundo de cor diferente, e os macacos tocavam os conjuntos em que eles viam as formas. Os pesquisadores concluíram que a percepção das cores pelos animais mudou drasticamente depois do tratamento. “A percepção visual das cores pelos humanos é muito boa: precisa-se apenas de um pouco de vermelho para distinguir duas formas”, afirma Jay Neitz, um dos autores do estudo. “Os animais curados não possuem a visão tão boa quanto outras espécies de macacos na percepção das cores, mas estão bem próximos”, completa.

Ambos os animais descritos no estudo mantiveram a nova capacidade de percepção de cores por mais de dois anos. E nenhum deles apresentou efeitos colaterais negativos, tais como uma reação imune à proteína que foi injetada. Os pesquisadores estão estudando mais quatro animais, sem sinais de complicações. “Os resultados estão normais até o momento” informa Gerald Jacobson, neurocientista da University of California, nos Estados Unidos. “Existe a possibilidade de fazer o mesmo em humanos”, completa.

Outros experimentos com terapia genética já estão sendo feitos para combater mais males da visão, como para a neuropatia óptica hereditária de Leber, em que uma proteína anormal danifica os fotorreceptores em sua sensibilidade à luz. A chance de esta pesquisa ser convertida em um tratamento para o daltonismo humano é controversa. "Eu acredito que seria um uso pobre da tecnologia médica quando se há problemas muito mais graves", diz Nathans. "A variação de cor na visão é um dos fatores que fazem a vida mais interessante. Podemos denominar o daltonismo como uma deficiência, mas os daltônicos possuem outras qualidades, como o de perceber camuflados". O tratamento também melhora a acuidade visual.

Entretanto, Nietz e Jacobson afirmam que são procurados frequentemente por daltônicos procurando pela cura, e eles esperam que a terapia que está sendo estudada possa ser feita em humanos.

"Parece ser uma limitação trivial para os que não são daltônicos, mas isto de fato atrapalha um pouco a vida do portador de daltonismo", enfatiza Jacobson. Daltônicos não podem trabalhar como pilotos comerciais, por exemplo. "Pacientes daltônicos me dizem sempre do que sentem falta por não terem uma visão normal”, informa Neitz. "Obviamente não queremos arriscar outros aspectos da visão, mas acredito que este tratamento pode chegar a ser feito sem muitos riscos."

A expectativa dos pesquisadores é que os resultados certifiquem que o tratamento pode ser aplicado contra outras doenças da retina. Centenas de mutações já foram identificadas e relacionadas aos problemas que podem atingir os fotorreceptores e outras células retinianas, conduzindo à doenças como a retinose pigmentar, doença degenerativa que pode levar a cegueira. Entretanto, ao contrário do daltonismo, onde o sistema visual está intacto, salvo pela falta de fotopigmentos, muitas destas doenças provocam danos às células fotorreceptoras. A pesquisa também levanta a possibilidade de melhorar a funcionalidade do sistema visual.

Fonte: http://www.portaldaretina.com.br/home/noticias.asp?cod=1115